Ao pé do ouvido

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Existe uma coisa dentro de mim que nunca dorme ou cala a boca. O sono bate, eu deito, penso que a noite vai ser boa. Ela, de fato, é. Mas antes de ser, algo sempre acontece. São eles, meus pensamentos. Sem trégua, férias, intervalo, hora do lanche. Eles me acompanham até na hora de escovar os dentes. Converso, jogo carta, passo a mão em cada cabeça.
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Tenho a mania da mão na cabeça. Gosto de passar a mão nos cabelos dos meus queridos. Os meus queridos são as pessoas que me são queridas. Só isso. E para ser um querido meu nem precisa muito. Um sorriso e me ganhou. Mentira, antes eu era boba. Eu vivo repetindo pra mim tá-aprendendo-tá-aprendendo. Queria muito aprender, mas não dá. Basta a pessoa contar uma história triste que eu digo senta aqui. Desde pequena, não tem jeito. Me olhou com cara de cachorro sarnento e eu fico com dó.
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Juro que preciso aprender muito da vida ainda. É que antes era tão bom. Essa coisa de vamos ser adulta é muito chata. Não confia em todo mundo, nem todo mundo é teu amigo. Tá legal, tá legal, já ouvi. E já quebrei a cara também, você sabe, e eu ainda guardo cada marquinha. Só que elas são externas, não sei ter marca lá dentro. Cicatrizes existem, quem não têm? Mas o rancor não mora aqui, eu garanto. Passou e pronto. E se ainda tá amassado, a gente sacode, disfarça e tudo fica bem.
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Não aprendi a ter raiva. Me faço de durona, entende? Falo palavrão, digo que ah, essa desgraçada vai ver, vai ter, vai, vai. Mas assim como você não é Escola de Samba de São Paulo, eu não sou a vilã da jogada. Se precisar de uma mão na cabeça, senta aqui.
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