Ninguém atende

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Foto: Le Love Image




Às vezes parece que algum sonho dá uma rasteira na gente. O salto quebra, o rímel borra, o coração desmancha. E a gente pensa nunca-mais-vou-acreditar-em-bobagens-de-amor. Todos os dias alguma mulher conhece um cafajeste. Por sinal, neste exato momento alguma mulher em algum lugar do mundo (existem cafajestes de todas as nacionalidades) está encantanda ouvindo todo o repertório cafajestal. E me pergunto: por quê? Por que existem homens que se sentem mais poderosos enrolando uma mulher? Por que pedir o telefone se não vai ligar – ou, pior ainda, se só vai ligar quando todas as mulheres da agenda estiverem ocupadas ou sem vontade de ver o bonito?


Comigo – e acredito que com você também – já aconteceu de tudo. Tem homem que pede o telefone e liga no outro dia (sempre fugi desses, sinto uma carência pairando no ar quando o cara liga no day after). Tem homem que dá o telefone, pede pra você ligar, você liga e ele não atende (por que deu, hein, cabeção?). E tem homem que te conhece na noite, te beija gostoso, te encanta, te seduz, pede o telefone e liga dali há duas semanas.


Quando eu era solteira, estabelecia um código de ligação com as meninas. Dizia assim: conheci hoje, ele pediu o telefone, eu dei, então vou esperar até o dia tal e se ele não ligar adiós, muchacho. Funcionava mais ou menos dessa forma: se eu conhecia o cara numa terça, esperava até sábado e se ele não ligava eu pensava não-vai-rolar. Quase sempre minhas teorias não funcionavam. A gente pensa que os homens são previsíveis – e eles pensam o mesmo de nós.


Os queridos sabem que a gente espera a bendita ligação. Portanto, nova teoria: se o cara realmente tá a fim ele não vai te deixar esperando. E se o cara só quiser dar-uns-pegas ele vai te deixar na palma da mão. Mulher adora imaginar o pensamento do cidadão. Ansiedade anda dentro da nécessaire, esperando por quem não chega – e por um telefone que nunca toca (e a gente testa, vê se tá funcionando, se alguém quer usar a gente quase grita não-ocupa-o-telefone-porque-tô-esperando-uma-ligação-importante, o telefone é assediado sexualmente: olhamos fixamente, esperando que ele nos dê mole). Mas e se o cara liga no outro dia? O interesse se perde completamente? Não sei, acho difícil falar.


Hoje, analisando as mil teorias sobre encontros, reencontros e desencontros, penso que quando a gente tá a fim de verdade a gente faz. Simples assim. Vai, se dá, se mostra, se entrega sem medo de se quebrar em 1658 pedacinhos. A gente fica sem medo e sem vergonha. E o coração fica sorrindo, de braços abertos. E espaço reservado na área VIP.




* Texto escrito para o site da Mauren Motta.
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