Achados e perdidos

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Sumi uns tempos, falta de vontade e outras coisas. Se você me perguntar que coisas são essas, nem sei. Aquela vozinha cutucante dirá que a gente sempre sabe o que incomoda. Confesso que sei mesmo, mas nem sempre saio assim me revelando. Quando os fios dourados da juventude me acompanhavam (não que eu seja velha, só quis ser cafonona agora, com licença), eu era tagarela. Saía abrindo o coração, a boca e a vida para quem estivesse ao redor. Podia ser o jornaleiro, padeiro, manicure, amiga de mesa, de copo, de tudo. Você sabe, a amiga de copo nem sempre é amiga do peito. E vice-versa. Eu achava, sutil inocência, que um amigo para ser amigo tinha que estar em todos os momentos. Pensava que se eu não contasse tudo para alguém aquele alguém não seria meu amigo. Tsc, tsc, o mundo gira, a gente engole água salgada, quase é levada pelas ondas e cresce. Ainda bem que sustos acontecem. E que conseguimos ser mais fortes que o mar - pelo menos é o que tentamos.


Aprendi algumas coisas, desaprendi outras. Desaprendi a andar com o celular sempre ao lado e a fazer escova no cabelo todos os dias. Aprendi a enfrentar o medo de trovão e desaprendi a andar de salto 10 cm o dia todo. Aprendi que a gente tem que desaprender para poder evoluir. E tá aí a dureza - e a beleza - de viver. Me tornei mais reservada, o coração é meu, assim como os tropeços e troféus. Divido com quem acho que mereça, choro os medos para quem suponho que entenda. Como não sou Buda, nem Deusa, nem nada, eu erro. Sumi uns tempos, falta de vontade e outras coisas. Andei um pouco triste, coisa passageira, não sei se é tão rápida assim, suponho que sim, não posso afirmar com certeza, na verdade eu nem sei direito. Andei triste. Aprendi a disfarçar as coisas bem cedo, bem nova. Na hora do aperto consigo tudo, até carregar um elefante de ferro nas costas. Depois que a coisa desaperta, desacelera e entra nos trilhos eu sinto o baque. Demora, às vezes. Pode ser reflexo retardado, sei lá, mas é. E aí eu sinto, penso, revejo, me observo, consigo aquele distanciamento e analiso a situação. O engraçado é que sou impulsiva ao extremo, intensa até dizer chega. Então tudo se mistura, embola, ganha força, pega impulso e dá um grande salto mortal dentro de mim. Estrago, é ele que causa o sumiço.


Vezenquando sumo dos outros, vez ou outra me faço de louca e sumo de mim. Tentei fazer isso nos últimos tempos e, engraçado, me achei em todos os segundos. Sabe quando você toma um goró na madrugada, tem garoa na rua, silêncio, solidão e labirinto? Então você entra meio bêbada e com os pés descalços num labirinto cheio de limo e podridão imaginária e fica tentando achar, inutilmente, a saída. Foi o que eu quis fazer, mas eu encontrei a saída logo na primeira entrada. Bléin, acabou o tempo. Então eu voltei, tô aqui. E, querendo ou não, vocês vão ter que me engolir. E tenho dito.
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